Pesquisadora da Universidade de Boston apresenta resultado de estudos realizados em três estados da Amazônia
“A questão da ocupação do solo de forma econômica tem permeado todas as discussões sobre o desenvolvimento do estado, quase sempre de maneira empírica e, muitas vezes, de forma emocional”. Foi com estas palavras que o coordenador do Fórum Permanente de Desenvolvimento Regional, empresário Jorge Tomás, abriu a palestra sobre Sistema de Integração Lavoura-Pecuária, realizada na última quinta-feira, 8 de março, na Sala de Reuniões da FIEAC. “O que queremos agora é tratar esta questão de forma técnica e científica. Por isso, trouxemos aqui a doutora Rachael Garrett, da Universidade de Boston, que tem se dedicado com bastante esforço ao assunto”, completou.
Na Amazônia Legal existem mais de 76 milhões de hectares de áreas já desmatadas, sendo mais de 60% ocupadas com pastagens em diferentes fases de degradação. No Acre, são cerca de 2,1 milhões de hectares desmatados, sendo 80% ocupados com pastagens em diferentes fases de degradação. A integração lavoura-pecuária (ILP) é uma estratégia de integração dos sistemas de produção agrícola e pecuários que pode viabilizar a recuperação de áreas agrícolas e de pastagens degradadas, aumentar a produtividade e a rentabilidade dos sistemas de produção e conciliar desenvolvimento econômico, bem estar social e conservação ambiental.
Esta é a conclusão a que chegou a pesquisadora da Universidade de Boston (EUA), Rachael Garrett, que é doutora em meio ambiente e recursos, em seus estudos sobre Sistema de Integração Lavoura-Pecuária no bioma da Amazônia. Ela apresentou sua pesquisa, realizada nos estados do Acre, Mato Grosso e Pará, para uma plateia formada por empresários, agricultores, pecuaristas, representantes de governo e estudiosos, no evento realizado pelo Fórum Permanente de Desenvolvimento Regional em parceria com a Embrapa e a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (Faeac).
De acordo com Garrett, a ampliação da adoção dos sistemas de produção (ILP) no Acre e em toda a Amazônia é uma das principais estratégias para conciliar o aumento da produção agropecuária para atender a crescente demanda mundial de alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir a pressões de desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa. “Com um sistema diversificado, o produtor estará mais preparado para qualquer situação”, frisou.
Segundo o doutor Judon Valentim, pesquisador da Embrapa, o trabalho foi realizado em parceria com a instituição, tendo como foco a visão de todos os atores envolvidos nessa cadeia, que apresentaram seus maiores problemas e soluções. “A Rachael tem sido determinante para este processo. Quando fazemos parcerias como esta, com a Universidade de Boston, nós agregamos novas competências para fazer uma análise mais robusta e complexa da realidade, tentando contribuir de forma mais efetiva para o processo de desenvolvimento”, resumiu.
POSITIVIDADE – Otimista, o secretário de Estado de Agricultura e Pecuária, José Carlos Reis da Silva, afirma que a tendência do Acre é reduzir mais as áreas de pastagem, aumentar a produção da bovinocultura e as áreas de agricultura. “Temos dificuldades logísticas e ambientais aqui, mas estou muito otimista com as coisas que estão acontecendo no Acre. Semana passada estivemos em uma onde estão tirando 120 sacas por hectare de milho já nesse sistema de integração. A pastagem está ficando uma maravilha. Portanto, vejo este cenário com muita positividade. Temos as melhores áreas para fazer isso”, declarou.
Ao término do evento, o coordenador do Fórum, empresário Jorge Tomás, agradeceu pelo estudo compartilhado e o esforço em ajudar o estado a se desenvolver. “Temos compromisso de suscitar discussões e seguir caminhos. Percebi três questões determinantes para que se opte por esse sistema, que são infraestrutura e logística, institucionais, além do próprio conhecimento sobre o assunto”, observou. O presidente da Faeac, Assuero Veronez, pontuou que o principal entrave para maior adesão ao sistema de integração lavoura-pecuária seria a atual legislação, que engessa a atividade.
“Apesar do cenário pessimista, esses dados são importantes para influenciar determinadas políticas de governo. Eu sou um dos que adotaram esse sistema de integração lavoura-pecuária e está sendo muito bom, melhorando de forma expressiva as pastagens. Agricultura não é uma coisa fácil, é preciso ter coragem, pois os investimentos são altos e as pessoas ficam temerosas de tentar. Mas já estamos verificando uma mudança lenta e sem retorno, pois isso muda substancialmente o seu negócio”, finalizou.