Os resultados do Índice Global de Inovação (IGI), divulgados recentemente, reforçam o longo caminho que o Brasil tem a percorrer para se tornar referência no cenário internacional. Ficamos na 66ª posição entre 129 nações, segundo dados de 2019. Mesmo na comparação com os vizinhos latino-americanos, a situação não é favorável, pois o desempenho brasileiro é apenas o quinto melhor da América Latina.
Enquanto isso, a China vem progressivamente avançando e já se destaca entre as 20 economias mais inovadoras do mundo, ao lado de países como Suíça, Estados Unidos, Noruega, Suécia.
O caso chinês é exemplar. No início do século, com investimento inferior a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D), a China ficava atrás do Brasil nesse indicador. Ao longo de quase duas décadas, o país asiático alavancou seus aportes para 2,11% do PIB em 2016, ao passo que o Brasil não ultrapassou 1,27% no mesmo período. Políticas de longo prazo e investimentos massivos em ciência, tecnologia e inovação ajudam a explicar o sucesso chinês. A meta é clara: ser potência tecnológica global até 2049.
A China não está sozinha. Ao contrário. É comum às lideranças econômicas globais investirem 2% ou mais do PIB em P&D, cientes de que é preciso inovar para aumentar a produtividade das empresas, gerar empregos de melhor qualidade e remuneração. Em torno da inovação, e não à sua margem, países como Estados Unidos, Alemanha e mesmo Israel constroem suas estratégias de crescimento e desenvolvimento.
Este debate tem sido feito de forma permanente pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), movimento de empresários coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com os objetivos de tornar a inovação uma estratégia perene das empresas e de contribuir para a implementação de políticas de inovação mais efetivas no Brasil. Há mais de uma década, a MEI tem realizado diagnósticos e construído propostas que sejam capazes de melhorar o ambiente nacional de inovação, de modo a promover o aumento da competitividade brasileira.
As principais dificuldades a superar, assim como as inúmeras oportunidades para o país se tornar um protagonista em inovação, já foram mapeadas e debatidas com o setor governamental e acadêmico. É extremamente importante que as ações de governo, iniciativa privada e universidades sejam integradas. Só assim o ecossistema brasileiro de inovação poderá avançar de maneira decisiva.
Três diretrizes, no entender dos líderes da MEI, são essenciais para o avanço da indústria e do país nessa área. A primeira é a definição de uma política nacional de inovação para viabilizar a transição para a economia digital. É urgente construir uma estratégia de longo prazo, que induza o aumento dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação pelas empresas, com metas claras e compartilhadas com o setor privado, como se vê nos Estados Unidos e na China. Trata-se de uma medida recomendada aos gestores públicos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em seu acórdão 1237/2019.
A segunda diretriz é a priorização de recursos estáveis para inovação em projetos relevantes para a sociedade, desenvolvidos em parceria de instituições científicas e tecnológicas com empresas. O Brasil faz ciência de ponta e pode fazer ainda mais. Trata-se de estimular a transformação do conhecimento gerado em valor econômico, como fazem os Institutos Senai de Inovação e Tecnologia e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que atuam com foco em resultados.
Foi identificada, também, a necessidade de fomentar a formação de recursos humanos, técnicos e especializados, para lidar com as novas tendências tecnológicas e exigências de mercado. Há consenso de que a qualificação da mão de obra é, atualmente, um dos maiores obstáculos ao aumento da produtividade e à inovação no Brasil.
Nesses tempos de profundas mudanças na natureza da competição, os dados do Índice Global de Inovação ajudam a identificar nossas lacunas e desvantagens para enfrentar os novos desafios. Mais ainda, reforçam a necessidade premente de revisão das políticas do Brasil nessa área. Com persistência, a economia brasileira será capaz de construir uma trajetória de inovação exitosa. Está passando da hora de o país dar prioridade absoluta a essa agenda.
* Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
O artigo foi publicado no site O Globo Online