Os desafios que se acumulam na economia brasileira – fiscais, sociais e produtivos – não são novidade. Mas a complexidade do presente exige mais do que diagnósticos conhecidos: urge uma ação coordenada, espírito público e visão de futuro. O tempo das soluções improvisadas ficou para trás. Se quisermos um amanhã mais próspero, é preciso construí-lo a partir de um presente sólido, ancorado numa economia forte, moderna e inclusiva.
Nesse cenário, é impossível ignorar o papel central da indústria. Ela está nas entranhas do cotidiano: nas roupas que vestimos, nos alimentos que consumimos, nos celulares, nas ferramentas e embalagens, por exemplo.
Mais que produzir bens, a indústria multiplica inovação, impulsiona a produtividade e cria empregos de qualidade. Ela sustenta a capacidade de um país competir globalmente. Não há soberania real sem uma base industrial robusta.
Mas a indústria não avança sozinha. É preciso mais que vontade ou capacidade técnica. É necessário ambiente. É preciso projeto. É preciso um pacto que não se restrinja a governos ou mandatos, mas que olhe o Brasil como nação.
É por isso que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende um pacto nacional pelo desenvolvimento. Um compromisso duradouro que una Estado, setor produtivo e sociedade em torno de princípios claros: responsabilidade fiscal, política industrial moderna, reformas estruturais que removam entraves históricos. Enfrentar o “Custo Brasil”, racionalizar o aparato regulatório e dar previsibilidade ao investidor não são favores ao mercado — são condições para que o Brasil se desenvolva com sustentabilidade e justiça.
Os sinais de alerta se multiplicam. Aumentos pontuais de impostos, como no IOF, freiam o investimento produtivo. Debates sobre redução da jornada de trabalho sem ganho de produtividade podem custar bilhões à economia. A modernização do setor elétrico não pode se dar lastreada em tarifas ainda mais altas para quem gera, transforma e distribui riquezas.
Há, portanto, uma urgência por diálogo. Não o protocolar, esvaziado de escuta, mas um debate transparente, técnico e generoso, em que o interesse do país se sobreponha a paixões ideológicas ou pressões setoriais.
A indústria está pronta para esse entendimento essencial à construção de um crescimento sustentado: tem propostas, dados e soluções para compartilhar. As principais propostas tratam da questão essencial para o ajuste fiscal: o controle do crescimento das despesas obrigatórias de forma estrutural.
Nesse sentido, defendemos a revisão de regras de concessão e reajuste de benefícios assistenciais e a adequação do mínimo de gastos com educação e saúde. Pelo lado das receitas, não é possível elevar a tributação sobre os setores que já arcam com a já altíssima carga tributária atual.
Defendemos, no entanto, que sejam adotadas medidas que garantam isonomia tributária ou que ataquem a preocupante escalada das apostas. Nesse sentido, temos propostas estruturadas, com sugestão do mecanismo de cobrança e estimativas de receita, para a tributação das compras de serviços digitais diretamente de empresas não instaladas no Brasil por parte de pessoas físicas e também para a criação de uma tributação seletiva sobre bets (até que essa tributação já prevista na reforma tributária entre em vigor em 2027).
O que pedimos é espaço para construir, junto com os demais setores, um projeto nacional consistente.
Importa lembrar que a força de uma economia não está apenas em suas fábricas. Está também na potência da agropecuária, na inteligência dos serviços, na vitalidade do comércio, no talento dos trabalhadores e empreendedores que movem este país com criatividade e resiliência.
A indústria não rivaliza com os outros setores — ela os conecta e fortalece. Uma cadeia produtiva sólida começa com uma engrenagem industrial ativa e bem lubrificada.
Por isso, o chamado é para todos: Executivo, Legislativo, Judiciário, governadores, prefeitos, empresários, sindicatos, trabalhadores e universidades.
O Brasil precisa — e pode — construir um projeto comum. Um projeto que vá além da estabilidade fiscal e abrace o desenvolvimento com inclusão, produtividade e ambição global.
Chegou a hora de deixarmos para trás o velho bordão de que o Brasil é o país do futuro. Este começa agora. E só se tornará realidade se formos capazes de firmar, com coragem e compromisso, um pacto verdadeiro pelo presente.
*Ricardo Alban é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O artigo foi publicado no jornal Metrópoles, no dia 02 de junho